CIDADES INTELIGENTES: UM CAMINHO À EQUIDADE NO DESENVOLVIMENTO URBANO NO SÉCULO XXI?

AUTOR: JOSÉ FERNANDO CAMACHO

Economista, Ms. e Dr. em Geografia Regional e Urbana, pelo Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia

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 RESUMO

Nosso trabalho objetiva apresentar uma reflexão em torno do debate a respeito dos elementos estruturantes do conceito de cidade inteligente apontando para como se pode, a partir da construção dessas, desenhar um modelo urbano mais equânime às cidades dos países subdesenvolvidos. Para tanto resgatamos todo um conjunto de estudos que, se apoiando na criação e desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, nos mostram como os diferentes usos dessas tecnologias podem tornar-se ferramentas para oferecer as cidades desenvolvimento econômico, sustentabilidade e justiça social.

 

Palavras Chaves: cidades, cidades inteligentes, desenvolvimento econômico, sustentabilidade, justiça social.

 

SUMMARY

Our work aims to present a reflection about the debate about the structuring elements of the concept of intelligent city pointing to how, from the construction of these, to draw a more equitable urban model to the cities of underdeveloped countries. In order to do so, we have rescued a whole series of studies that, based on the creation and development of new information and communication technologies, show us how the different uses of these technologies can become tools to offer cities economic development, sustainability and social justice.

 

 Keywords: cities, smart cities, economic development, sustainability, social justice.

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

O ano de 2008 tornou-se um ano muito especial para toda a humanidade, passamos a apresentar mais de 50% da população mundial em áreas urbanas, hoje somos 54%, estima-se que seremos 66% em 2050 e, nesse processo de transferência às cidades, a Divisão das Nações Unidas para a População do Departamento dos Assuntos Econômicos e Sociais (DESA-ONU) calcula que, até 2050,2,5 bilhões de pessoas serão deslocadas às cidades.

 

Essa questão traz àluz, um conjunto de problemas que não poderão ser resolvidos apenas por esse ou aquele país, e tampouco debatidos neste artigo, mas quaisquer que sejam essas resoluções exigirão ações conjuntas de todos os agentes urbanos construindo um novo modelo de desenvolvimento, um pensar o planeta sobre a importância da sustentabilidade urbana e uma apropriação generalizada das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) na garantia de qualidade de vida e do exercício da cidadania.

 

A primeira questão que se coloca está no fato de que, grande parte desse deslocamento em direção às cidades ocorrerá em países subdesenvolvidos, pobres, de base agrária, ou qualquer outra denominação que lhes possa atribuir. Nesses países, a pobreza no campo, em muitos casos, a guerra ou as catástrofes ambientais, estão acelerando os processos de urbanização, massas de população chegam às cidades e, regra geral, não encontram oportunidades que lhe garantam vida digna, as medições do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano - atestam que os piores indicadores de qualidade de vida encontram-se naqueles países onde os processos de urbanização são mais intensos e recentes.

 

Uma segunda questão está no modelo de desenvolvimento excludente e concentrador de riqueza; seja no campo, seja na cidade, esse não cria possibilidades de:

 

·         Fazeras cidades crescerem num ritmo menor, ou seja, a urbanização desses países é metropolizadora e nessa, os deslocamentos casa-trabalho-casa tornam-se cada vez mais sacrificantes para grande parcela da população;

 

·         Fixar a população de tradição rural no campo, a agricultura modernizada concentra a terra e dificulta programas de crédito que favoreçam a pequena propriedade;

 

·         Garantir maiores e melhores condições de acesso ao emprego urbano, o que melhoraria as condições de renda e acessoa programas de educação, saúde, saneamento, segurança e moradias dignas.

 

Enfim, ao olharmos as grandes e médias cidades dos países pobres se tem a sensação de se iniciar o século XXI com a paisagem e os problemas do início do século XIX.

 

Um terceiro grande desafio a ser enfrentado por uma humanidade urbana, está na questão da sustentabilidade do planeta. A vida nas cidades consome muito mais recursos que a vida rural.Para além de grande consumidora de recursos, a cidade é a principal produtora de resíduos e rejeitos. Esses não apresentam apenas o problema de como e onde acomodá-los, mas mais do que isso, a produção crescente desses é uma ameaça à qualidade das águas, do ar, do solo e da vida das gerações futuras. Nessa sustentabilidade, faz-se necessário um consumo cada vez maior de recursos renováveis e um novo padrão de deslocamentos de pessoas e mercadorias e das atividades econômicas.

 

Por fim, todos esses problemas, e outros tantos que não são objeto deste trabalho, se agravam e evidenciam-se, de maneira mais intensa, numa conjuntura de acelerada inovação tecnológica nos transportes, nas telecomunicações e na informação. Esses desenvolvimentos fazem com que vivamos transformações tão semelhantes àquelas vividas com o advento da eletricidade, a sociedade apropriou-se da tecnologia e criou um conjunto diverso de usos. Desenvolveram-se, nos últimos 30 anos, tecnologias informação e comunicação que modificaram, e continuam modificando, a nossa sociedade de maneira muito diversa.

 

Tais tecnologias influenciaram as atividades produtivas - modificaram localizações, a forma de organização do trabalho, o controle da qualidade, as necessidades de estoques -; influenciaram a circulação – desenvolveram maior controle e rapidez nos deslocamentos, permitiu-se, com velocidades antes nunca imagináveis uma maior transferência de dados, de comandos, de informações, mais uma vez, desenvolvemos uma tecnologia que modifica, com radicalidade, a nossa vida urbana.

 

Essa urbanidade, transformada pela tecnologia, constitui, com cada vez mais popularidade na academia, estudos sobre o fenômeno das cidades inteligentes ou “smart cities”, tais cidades deveriam, tendo como suporte a infraestrutura tecnológica, desenvolver múltiplos usos dessa no sentido de garantir um ambiente colaborativo ao emprego, a qualidade de vida, a justiça social e a participação cidadã.

 

A DIVERSIDADE DE CONCEITUAÇÕES

O filósofo francês Pierre Levy, com toda uma produção voltada ao estudo do conhecimento e da comunicação, apresentou, em 1999, uma obra denominada Cibercultura. Na definição do fenômeno, o autor nos coloca que essa se originaria no ciberespaço produzido pelas novas tecnologias da informação e comunicação, em especial, pela internet.Tal espaço e cultura são produzidos e conduzidos por uma geração que está aberta a experimentar formas de comunicação diferentes e que coloca a nossa sociedade,a possibilidade do explorar as potencialidades positivas que essa tecnologia nos oferece.

 

Mas a questão a se colocar é: a cibercultura e seu correspondente ciberespaço podem constituir uma cibercidade?e, se constituem, quais os parâmetros que poderiam verificar tal condição?, em que medida tais desenvolvimentos contribuiriam para a construção de um espaço urbano que propiciasse justiça social e equidade no desenvolvimento urbano?.

 

Grande número de autores, nas últimas duas décadas, tem se preocupado com a conceituação do fenômeno das cidades inteligentes ou “smart cities” com o objetivo de responder às questões colocadas no parágrafo anterior. O próprio Levy (1999) aponta que a vontade politica dos agentes poderá colocar o ciberespaço em favor do desenvolvimento de comunidades locais e regiões,

 

“explorando ao máximo seu potencial de inteligência coletiva: valorização das competências locais, organização das complementaridades entre recursos e projetos, troca de saberes e de experiências, redes de ajuda mútua, maior participação da população nas decisões políticas, abertura planetária para diversas formas de especialidades e de parceria etc.” (LEVY, 1999, p. 185)

Aqui se apresenta a questão que orientará esta nossa exposição, no dinamismo do desenvolvimento das chamadas TICs, as cidades inteligentes podem apresentar uma definição precisa? Quais são seus elementos estruturantes, aqueles que articulam a base tecnológica à sociedade? Em que medida tal fenômeno contribui para a equidade social ou constitui-se um rótulo criado para as cidades no sentido de, sob o discurso ideologizado do desenvolvimento, esconder crescimento desigual?

 

Outra questão que se coloca sem menor importância é, se essas cidades poderão ser construídas sobre as atuais, como já o foram as cidades mercantis sobre as cidades da antiguidade e as cidades industriais sobre as cidades mercantis, ou se precisaremos, para ser inteligentes na sua totalidade, de um novo modelo de cidades e de um novo modelo de urbanização.

 

Sabemos que, neste breve artigo, não chegaremos à resposta de todas essas questões, a própria dinamicidade do desenvolvimento tecnológico é um fator permanentemente modificante do fenômeno das cidades inteligentes, mas à luz das diversas interpretações do conceito queremos contribuir para o seu melhor entendimento.

 

Não apresentando qualquer conceituação utilizando a expressãocidades inteligentes, Levy (1999),em um dos subtítulos de seu livro Cibercultura, discutiu sobre as cibercidades e a democracia eletrônica. O autor aponta que embora as facilidades da eletrônica e das tecnologias digitais de comunicação possam descentralizar as atividades, isso não significará o fim da metrópole, ao contrário, a maior densidade dessas tecnologias estará nessas próprias concentrações urbanas, o que fará “aumentar a capacidade de controle estratégico dos centros de poder tradicionais sobre as redes tecnológicas, econômicas e humanas cada vez mais vastas e dispersas” (LEVY.1999:185)

 

Santos (2006:221) trata a questão das mudanças provocadas pela revolução tecnológica, a partir da noção de territórios opacos e territórios luminosos,

Na cidade "luminosa", moderna, hoje, a "naturalidade" do objeto técnico cria uma mecânica rotineira, um sistema de gestos sem surpresa. Essa historicização da metafísica crava no organismo urbano áreas constituídas ao sabor da modernidade e que se justapõem, superpõem e contrapõem ao uso da cidade onde vivem os pobres, nas zonas urbanas 'opacas'. (SANTOS, 2006:221)

 

Não encontramos em Santos (2006), assim como já apontamos em Levy (1999), uma conceituação sobre as cidades inteligentes, mas ao tratarmos desse conteúdo vemos que os autores apontavam para, com o desenvolvimento das TICs, a incorporação da técnica à urbanidade cotidiana,Santos (2006) destaca a criação de uma tecnoesfera e de uma psicoesfera. A primeira, constituída pelo movimento da técnica que se sobrepõe ao desenvolvimento anterior, a segunda, advém do local, do ambiente das ideias e traduz a incorporação da primeira a cada lugar, de maneira simplificada acreditamos que tal psicoesfera seja o que Levy (1999) chamou de “inteligência coletiva [...]valorização das competências locais, organização das complementaridades entre recursos e projetos, troca de saberes e de experiências, redes de ajuda mútua” (LEVY, 1999:185).

O termo inteligente, dessa maneira, não pode significar apenas a aplicação das novas tecnologias de informação e comunicação às cidades, para além desse aspecto técnico é preciso considerar o termo no seu sentido sócio político, ou seja, a cidade inteligente deve incorporar um entendimento orientado para uma organização que priorize a governança e o papel do capital social e das relações no desenvolvimento urbano.

 

Segundo a “European smart cities”, equipe formada pela Universidade Técnica de Viena, uma cidade inteligente é uma cidade que interage bem com seis características inteligentes, fundada na combinação recíproca de doações e atividades de cidadãos com poder de autodeterminação, independentes e conscientes. Essas seis características assim se distribuem por: uma economia inteligente, uma mobilidade inteligente, um desenvolvimento inteligente, pessoas inteligentes, moradias inteligentes e governança inteligente. Mais uma vez observamos que ao buscarmos uma conceituação mais recente a respeito de cidades inteligentes não nos afastamos das conceituações de Levy (1999) sobre a cibercidade.

Outra abordagem sobre uma definição de cidade inteligentes é apresentada por Caragliu et al. (2009), para esses o desenvolvimento das TICs é de fundamental importância à criação de tais cidades, mas o papel do capital humano/social e relacional, as políticas educacionais e a preocupação com a sustentabilidade garantidas através de uma governança participativa e colaborativa se fazem também fundamentais.

Aos autores a disponibilidade e a qualidade da infraestrutura das novas tecnologias de informação e comunicação não é a única condição para a definição de uma cidade inteligente, cidades com níveis de educação de qualidade e com a presença de grande proporção de mão de obra qualificada verificam também elevados níveis de inteligência, muito embora, seja justo colocar que tais condições são produzidas pela presença das TICs. Nessas condições, a inovação provoca um circulo virtuoso de empreendimentos inovadores, que exigem infraestrutura modernizada, que estimula negócios inovadores e atraem uma mão de obra qualificada e capaz de atender as necessidades desses.A questão a se repensar é que ao definir cidades inteligentes considerando capital humano, social ou relacional, esses termos criam uma imprecisão muito grande ao conceito. Freitas (2014) aponta que tais elementos estão presentes em quase que todas as definições de cidades inteligentes sem, no entanto, estabelecer o peso e a importância desses capitais na construção da “inteligência” das cidades, o autor afirma que o uso indiscriminado de termos como “capital humano e social”, “crescimento econômico sustentável”, “gestão racional de recursos naturais” e “governança participativa” não estabelecem parâmetros concretos para a definição desses, o que faz parecer que a mera denominação de cidade inteligente ou “smart city” possa ser um fator de promoção da qualidade de vida, sustentabilidade do desenvolvimento e cidadania. Segundo Freitas (2014),  “o uso desse termo não é suficientemente claro. Parece ser evidente que o uso de tecnologia – parte comum entre todos os projetos – pode, de fato, transformar áreas urbanas, operacional, econômica e socialmente. Ao mesmo tempo, a caracterização dessas mudanças através do termo “cidades inteligentes” pode gerar grandes expectativas na população relacionadas à melhoria da cidade como um todo. De certa maneira, o mero processo de rotulação ajuda a minimizar alguns problemas urbanos subjacentes a essas inovações. Ou seja, como se em um passe de mágica, a cidade passasse a ser reconhecida como “cidade inteligente” e todos os seus problemas estruturais desaparecessem.” (FREITAS, 2014:22)Na direção do que é afirmado por Freitas (2014), Caragliu et al. (2009) nos colocam que o termo cidade inteligente apresenta-se como um conceito difuso mas do qual pode-se destacar características comuns. A primeira delas, a infraestrutura de redes, que diferencia os processos contemporâneos de integração do espaço, garantindo maior eficiência ao desenvolvimento econômico, social, cultural e urbano; em segundo, a presença de negócios inovadores, onde esses empreendimentos ocorrem, sua presença é uma garantia à consolidação das cidades inteligentes. Caragliu et al. (2009), continuam destacando a importância da ênfase na inclusão social de toda a população da cidade, as cidades inteligentes somente se consolidariam com o envolvimento e a consciência de toda a comunidade. Para além da inclusão social, é preciso que se tenha atenção especial à importância do capital social e relacional, ou seja, as cidades inteligentes deverão se constituir sem desprezar o conhecimento já acumulado por aquela população, seus costumes e comportamentos culturais, “A smart city will be a city whose community has learned to learn, adapt and innovate”. Caragliu et al. (2009:05). Por fim, os autores apontam para a necessidade do desenvolvimento social e sustentável como o principal componente estratégico ao estabelecimento das cidades inteligentes, atraindo indústrias de ponta (alta tecnologia), na promoção do desenvolvimento de longo prazo, estimuladas por parques tecnológicos, encubadoras e “start-ups” que se constituíssem em fonte de produção de conhecimento permanente, o que, numa economia globalizada, é fundamental ao desenvolvimento das cidades.

In a world where resources are scarce, and where cities are increasingly basing their development and wealth on tourism and natural resources, their exploitation must guarantee the safe and renewable use of natural heritage. (Caragliu et al., 2009:05Destacando uma definição operacional para as cidades inteligentes, Caragliu et al. (2009), apontam que uma “smart city” seria aquela em que os investimentos em capital humano e social, em infraestruturas de comunicação tradicionais (de transportes) e modernas (TIC), associados a um crescimento sustentável, inovador e criativo, seriam geridos por uma governança compartilhada que garantisse inclusão social, desenvolvimento econômico equilibrado e qualidade de vida. Em outra perspectiva da discussão, Harrison et al. (2012), definem uma “smart city” como aquela que tem a capacidade de analisar dados operacionais resultantes de congestionamentos de tráfego, estatísticas de consumo de energia e emissões de CO2, suas premissas fundamentais se constituem por áreas instrumentadas, interligadas e inteligentes. Ao se referir a áreas instrumentadas, referem-se a espaços dotados de sensores que possam responder em tempo real aos problemas urbanos; interligadas, em razão de todos esses dados organizarem-se em uma plataforma que permite o seu gerenciamento, sua transparência e o estimulo a empreendimentos; inteligentes, na medida em que permite, a partir dessa plataforma, análises com relação a perspectivas de longo prazo, otimização e estímulos a negócios inovadores e decisões imediatas para a resolução dos problemas.Na continuação de seu trabalho, os autores destacam a importância das TICs na organização das relações sociais, econômicas e culturais que a cidade proporciona. Em resumo, a “smart city”, na perspectiva de Harrison et. al (2010), é a cidade que constitui a ligação de uma infraestrutura física à uma infraestrutura de TICs, estimulando de negócios inovadores que alavanquem uma inteligência coletiva. Nesse sentido os autores apresentam figura que demonstra como a relação instrumentada – interligada – inteligente é fundamental à tomada de decisões e ao desenvolvimento de negócios.

 

O esquema acima carece dos elementos: capital social e inclusão, parecendo reduzir a “smart city” a uma economia de negócios, no entanto, mais tarde afirmam que tal rede de sensores pode fornecer um grande volume de informações sobre as atividades e os serviços que, organizados sobre uma plataforma, poderiam classificar essas informações e contribuir à governança, a melhoria da qualidade e eficiência dos serviços urbanos e à qualidade de vida.

Giffinger et. al (2007), desenvolvem trabalho apresentando um ranking de cidades de porte médio europeias, com o propósito de compreender a “smart city” como uma cidade que promove o desempenho futuro da economia, das pessoas, da mobilidade, do meio ambiente e da qualidade de vida e da governança, construindo num ambiente de compartilhamento de cidadãos independentes e conscientes.

 

Os autores consideram que a “smart city” seria a cidade dotada de uma indústria inteligente, ou seja, no domínio das TICs, bem como outras indústrias complementares a essas nos seus processos de produção, tais cidades incluiriam ainda parques empresariais inovadores – parques tecnológicos -, associados a universidades e centros de pesquisa voltados a programas de educação de seus habitantes e que pudessem contar com modelos de governança inteligente através de canais diretos a seus habitantes.

Giffinger et. al (2007) ainda consideram que o termo “smart city”  é usado para considerar vários aspectos que vão, desde um distrito de TICs, até uma economia, mobilidade, meio ambiente, pessoas, governança organizados de maneira inteligente. Em trabalho à revista IESE-INSIGHT, Juan M. Barrionuevo et. al (2012) identificam cinco tipos de capital que contribuem para a construção de uma cidade inteligente:        

economic (GDP, sector strength, international
transactions, foreign investment);

 

  • ·         human (talent, innovation, creativity, education);
  • ·         social (traditions, habits, religions, families);
  • ·         environmental (energy policies, waste and water management, landscape);
  • · institutional (civic engagement, administr;ative authority, elections). (BARRIONUEVO et al., 2012:51)

 

 

Barrionuevo et. al (2012) apresenta essas características (econômicas, humanas, sociais, ambientais e institucionais) como elementos vitais da articulação da vida urbana moderna, através de um sistema que combine, holisticamente, estratégias de inovação, coesão social, sustentabilidade e conectividade.

 

The key, therefore, to developing smart cities is to integrate all of these components in one holistic vision, thereby boosting management efficiencies – an area in which the private sector has much to contribute. (BARRIONUEVO et al., 2012:51)

 

Mahizhnan (1999), estudando o caso de Singapura, coloca de início, o desejo de a ilha ser chamada de “Intelligent Island”. O autor considera que Singapura seja o primeiropaís a reconhecer a importância das TICs na organização da vida, bem como na definição de condições de desenvolvimento e qualidade de vida. Apresenta, dessa maneira, quatro condições a construir tal “Intelligent Island”, a saber Uma educação em TI, como base para a formação de uma mão de obra qualificada e com potencial de criatividade e inovação;

·  Uma infraestrutura em TI, a inteligência na contemporaneidade pressupõe uma estrutura de redes de telecomunicações e informações, a integração dos mais diversos serviços e atividades em rede deve levar aos usuários facilidade e conforto.

·  A presença de uma economia de TI, ou seja, sua capacidade de manter condições de competitividade no cenário internacional está nos estímulos à formação de clusters eletrônicos e a adoção de comércio eletrônico como alternativa para uma economia de negócios inovadores

 A qualidade de vida, isso quer dizer, construir uma educação, infraestrutura e economia de TI não deve servir apenas a excelência econômica mas, uma parte importante dessa articulação, está em trazer benefícios a população em geral, reduzindo tempo, custos, esforços, sacrifícios e carências.

 

 

Singapore’s vision of an Intelligent Island, as mentioned at the outset, is not confined to economic excellence. An integral part of this vision is its concern for the quality of life for the ordinary citizen. Much of the developments and improvements discussed above undoubtedly bring benefits to the public. In terms of time, effort and cost, there are numerous instances of efficiency and comfort achieved through IT. (MAHIZHNAN, 1999:17)

 

 Kourtit and Nijkamp (2012), em artigo produzido para mapear as disparidades no desempenho econômico entre um conjunto pré-selecionado de grandes cidades globais, consideram como elementos de uma “smart city”:

 

·         O capital humano constituído por uma mão de obra qualificada,

 

·         O capital de infraestrutura representado por uma estrutura de redes de alta tecnologia,

 

·         O capital social, estabelecido pelas redes de relações locais e externas e,

 

·         O capital empreendedor, formado a partir de negócios inovadores e criativos.

 

Nam and Pardo (2011), em artigo conceituando as cidades inteligentes a partir das dimensões da tecnologia, das pessoas, e instituições nos apresentam que as definições de cidades inteligentes são várias, se comportando mais como uma rotulagem urbana, usada de diversas maneiras enquanto um conceito difuso e, muitas vezes, pouco consistente.

 

Seguindo uma genealogia do uso da palavra, Nam and Pardo (2011), destacam que, na perspectiva do marketing, o uso da palavra inteligência se relaciona ao usuário, assim a “smart city” é criada para atender as necessidades desses, fornecendo-lhe uma interface personalizada. No campo do planejamento urbano, aos autores, a inteligência pensada na lógica do crescimento é tratada como uma reivindicação normativa desse e também uma dimensão ideológica. Ser inteligente implica o estabelecimento de vetores estratégicos ao crescimento. 

 

Com a consolidação das TICs como instrumento de integração espacial e de comunicações, governos,e agências públicas em todos os níveis estão adotando a noção de inteligência para distinguir suas novas políticas, estratégias e programas na direção de um desenvolvimento sustentável, um crescimento econômico sólido e melhor qualidade de vida aos seus cidadãos.

 

Aos autores Nam and Pardo (2011), algumas definições enfatizam as tecnologias “is city that monitors and integrates conditions of all of its critical infrastructures. One of core mechanisms in smart city is a self-monitoring and self-response system”Nam and Pardo (2011:282), tal instrumentação tecnológica significa dados reais, coletados em tempo real a partir de sensores que, interligados a plataformas de interpretação virtuais, respondem às necessidades do mundo real. Se referindo a outras definições, os autores destacam que uma “smart city” é uma cidade que dá inspiração, compartilha cultura, conhecimento e vida, uma cidade que motiva seus habitantes a criar e florescer em suas próprias vidas.

 

Nesse segundo aspecto apresentado no paragrafo anterior, os autores evidenciam os objetivos do título de seu artigo, a “smart city” não é apenas a cidade dotada de uma infraestrutura técnica, muito mais do que isso, as cidades só existem pelas pessoas e, a técnica, deve servir a essas no sentido de inspirá-las, agregar-lhes conhecimento, motivar-lhes a criatividade e promover o bem estar de suas vidas. O que, no entanto, é preciso considerar é que a técnica não existe pela própria técnica, tampouco a apropriação coletiva dessa pelas pessoas contribui, imediatamente, para a melhora da qualidade de vida dessas. Essa articulação técnica–pessoas deve contar com uma integração orgânica dos sistemas técnicos e é nesse aspecto que se coloca o papel das instituições. Segundo Nam and Pardo (2011),

An information city refers to digital environments collecting information from local communities and delivering it to the public via web portals. In that city, many info-habitants are able to live and work on the Internet. An information city is an urban center for commerce, social and civic services, and social interactions among people, businesses and government institutions. (NAM and PARDO, 2011:285)

A produção de tais info-habitantes colocados na citação dos autores revela a importância das pessoas para a construção das “smart cities”, as cidades não existem sem as pessoas e, a essas deve ser dada a oportunidade do aprendizado da informação. Educação, aprendizagem e conhecimento tem importância central para a “smart city”, ou seja, a cidade inteligente deve através das políticas públicas voltadas à educação, produzir uma sociedade criativa, que se integre por meio de redes de conhecimento e exerça ocupações qualificadas. A “smart city” é uma cidade que socializa múltiplas oportunidades para explorar o seu potencial humano e levar uma vida criativa.

Tendo como foco a educação uma “smart city” deve apresentar centros universitários voltados à criação de mão de obra qualificada e a atração de indústrias e negócios sensíveis ao conhecimento da tecnologia de ponta. Uma cidade inteligente é também uma cidade da aprendizagem, que melhora a competitividade dos contextos urbanos na economia global do conhecimento. As cidades da aprendizagem estão ativamente envolvidas na construção de uma força de trabalho especializada em economia da informação. O papel da aprendizagem e da formação de uma mão de obra qualificada aos negócios criativos na “smart city” coloca em evidencia um último elemento para a constituição dessas, que se trata das Instituiçoes. A “smart city” só poderá ser consolidada, e aqui não importando o seu tamanho – seja um bairro inteligente, seja uma cidade inteligente -, se houver uma ampla integração entre empresas – especialmente aquelas de tecnologia -, a academia – na formação de mão de obra qualificada e no desenvolvimento de encubadoras e start-ups -, e os governos, no estabelecimento de políticas urbanas voltadas a criação de condições à população aprender a importância da tecnologia no seu cotidiano.

 

 

Nesse sentido, uma comunidadeou cidade inteligente é aquela a qual o governo, as empresas e os moradores entendem o potencial da tecnologia da informação e tomam uma decisão consciente de usar essa tecnologia para transformar a vida e o trabalho de maneiras positivas, ou seja, as iniciativas inteligentes da cidade exigem governança para a sua eficiência.

A Figura 2 abaixo sistematiza o pensamento dos autores ao nos apresentar o fenômeno da “smart city” como a síntese, a intersecção, dos fatores tecnológicos: redes sem fio, redes de cabo, antenas, dispositivos móveis, enfim, toda a infraestrutura técnica necessaria a interconexão, com os fatores humanos: não existe cidade, nem inteligência se desprezarmos o capital social e relacional, ou seja, as relações sociais pré-existentes, a cultura, os costumes, os principios religiosos e, por fim, o tripé se completa com os fatores institucionais: a governança,entendida como governo constituido de políticas participativas e compartilhadas com a sociedade cívil, tal articulação e compartilhamento estabelecerão regulações e diretrizes em favor crescimento de longo prazo e da qualidade de vida.

 

 

 

 

M. Thuzar (2011), ao tratar da Urbanização do Sudeste da Ásia, estudando o desenvolvimento das cidades inteligentes para o futuro, destaca que as pessoas são as protagonistas da cidade inteligente, assim, a educação, a aprendizagem e o conhecimento têm papéis centrais na construção da cidade inteligente. Mais uma vez aqui percebemos que, se de um lado, a expressão sustentável está presente em todas as definições de cidades inteligentes, de outro, não é a técnica ou a tecnologia apenas que irão grantir essa sutentabilidade, é preciso o envolvimento do conjunto integral da população, consciente dos seus direitos e deveres e tendo-lhe garantida equidade e justiça social. Não basta para a construção da cidade inteligente, o discurso elitista da sua criação, é preciso políticas efetivas que envolvam toda a populaçao. Segundo Albino et. Al. (2015),

Smart cities of the future will need sustainable urban development policies where all residents, including the poor, can live well [...]Smart cities are cities that have a high quality of life; those that pursue sustainable economic development through investments in human and social capital, and traditional and modern communications infrastructure (transport and informationcommunication technology); and manage natural resources throughparticipatory policies. Smart cities should also be sustainable, convergingeconomic, social, and environmental goals. ALBINO et. al (2015:07)

Dessa maneira, a qualidade de vida, o desenvolvimento econômico sustentável, a convergência entre todos os segmentos da sociedade na gestão dos objetivos econômicos, sociais e ambientais e,a consolidação de políticas participativas na gestão dos recursos naturais, são condições que mais uma vez se colocam como elementos estruturantes das cidades inteligentes.

 

Albino et. al (2015) apresentam quatro componentes de uma cidade inteligente: indústria, educação, participação e infraestrutura técnica. Esses elementos foram ampliados e modificados por uma proposta do Centro de Ciência Regional na Universidade Tecnológica de Viena que identificou seis componentes estruturantes: economia inteligente, mobilidade inteligente, ambiente inteligente, pessoas inteligentes, vida inteligente e governança inteligente,

 

Tais componentes foram associados por Lombard et. al. (2012) a diferentes aspectos da vida urbana. (QUADRO 1)

 

 

 

 

A economia inteligente está associada a atividades industriais e de serviços que, com a utilização das TICs, sejam fonte de alto valor agregado. A população inteligente se refere a uma cidade em que todo o processo educacional e suas políticas sobre todos os níveis de ensino, estejam associados ao uso intensivo das TICs, seja nos sistemas presenciais ou à distância. Um governo inteligente é aquele que se apropria das TICs no estímulo a participação popular nas decisões de políticas urbanas.A mobilidade inteligente significa uma política de planejamento urbano que, por meio das TICs, organize a distribuição das atividades, dos serviços públicos, do sistema viário e de transportes de modo a reduzir custos, minimizar tempos de deslocamentos e garantir qualidade dos serviços prestados. Um meio ambiente inteligente representa uma consciência – resultado principalmente da educação inteligente – ecológica e sustentável, no consumo de água e energia, e no tratamento dos rejeitos. Por fim, uma vida inteligente, seria todas essas condições reunidas na criação de condições de qualidade de vida e cidadania.

 

Cretu (2012) está entre o conjunto de autores que estabelecem uma arquitetura para as cidades inteligentes onde, as tecnologias digitais possibilitam a interoperabilidade entre Internet de serviços, Internet das coisas e Internet de pessoas, para capacitar os habitantes a reagir rapidamente a uma grande variedade de eventos, usando menos recursos do que antes, o que sginifica, mais educação inteligente, mais sustentabilidade e mais qualidade de vida.Num planeta em que o espaço real é, ao mesmo tempo, ampliado e comprimido pela virtualidade, as cidades terão que ser transformadas radicalmente para se tornarem inteligentes na totalidade dos seus aspectos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

A exposição realizada anteriormemente deixa de lado, pela limitação dessas linhas, um grande número de autores que têm suas contribuições ao fenômeno das cidades inteligentes, mas, o que observamos, é que existe uma convergência na representação dos elementos que sejam estruturantes dessas cidades. A tecnologia, a educação, as oportunidades, a qualidade de vida, a sustentabilidade e a governança são elementos que estão presentes nas conclusões de todos os autores com pequenas diferenciações na importância de cada critério a partir da área de interesse de cada autor.

Em uma análise desses critérios apresentados na perspectiva da construção de cidades mais equânimes, o seu pano de fundo, aquele em que sem a sua presença as cidades não poderiam se designar inteligentes, seria a presença de uma infraestrutura moderna e abrangente de TICs, essa infraestrutura deverá ter um caráter aberto e ilimitado para o aproveitamento de suas potencialidades a todos os interesses e necessidades dos citadinos e dos empreendimentos.

A presença deste “esqueleto” tecnológico deve ser acompanhada de uma articulação sincrônica entre Governo-Empresários-Acadêmia, ou seja, a cidade inteligente deve apresentar o interesse de um diálogo multisetorial entre os diferentes níveis de governo, que teria como papel a elaboração de políticas públicas (educação, saúde, saneamento, transportes), o empresariado, na condição de investidores e operadores de negócios criativos e, a academia, reunindo aqui os centros de ensino e de estímulo às ideias inovadoras e criação/atração de mão de obra qualificada.

Essa articulação deve se referenciar no capital social e relacional local, ou seja, a cidade inteligente não deve ser um modelo a ser transplantado a todos os lugares, ao contrário, deve respeitar as diferenças entre os lugares e considerarahistória acumulada de cada um, a sua cultura, a inteligência deve ser construída numa via de mão dupla, de cima para baixo, através dos estímulos criados pelos grandes investimentos e políticas públicas, mas também, de baixo para cima, captando interesses e necessidades do mais simples dos municipes e garantindo-lhes o direito de cidadânia.

Um último aspecto a ser considerado no tratamento do fenômeno das cidades inteligentes e que influi diretamente na equidade do desenvolvimento urbano é a questão da escala dessas cidades. Em especial nos países em desenvolvimento, o desenvolvimento econômico e o modelo de urbanização têm criadograndes concentrações urbanas que, pela especulação imobiliária, expulsam grande parcela da população a periferias distantes e dificultam a criação de condições de vida dignas.

Entendemos ser essa questão crucial na implantação de cidades inteligentes, não se trata de condenar as metrópoles como elementos de evidenciação das desigualdades urbanas, ao contrário, o que se observa nos dias de hoje é que grandes concentrações são espaços de maiores possibilidades para a otimização dos recursos e o aproveitamento do seu capital social.

As cidades inteligentes seriam então um fenômeno de uma nova urbanização, uma urbanização que, de um lado, se aproveitando dos processos de desconcentração das atividades e modernização do campo, se constituiria a partir de pequenos conjuntos populacionais, onde educação, qualidade de vida, oportunidades e sustentabilidade pudessem, desde a origem desses agrupamentos, constituir-se como princípios e contribuir a criação do que poderíamos chamar de comunidades ou bairros inteligentes.

 

Por outro lado, às grandes cidades exigiria-se,para além da necessidade da extensão da base técnica sobre todo o território dessas, o que nelas se torna o primeiro critério de desigualdades, a presença de políticas públicas dirigidas à integração local de trabalho – local de moradia. Em nosso entendimento esse par representa o maior gasto de recursos, se não conseguimos reconstruir as metrópoles reduzindo tais distâncias, é preciso dar a essas, sistemas mais eficientes e sustentáveis de mobilidade. Nessa direção uma política de educação e conscientização da população sobre o seu papel no uso e cobrança de eficiência desses sistemas é imprescindível,a articulação governos – empreendedores – academia nessas grandes aglomerações será determinante, seja para estimular soluções criativas ao problema da mobilidade, seja à criação de oportunidades formais e cada vez mais de maior qualificação, sejaà melhora e instalação de condições de saneamento, ao aprimoramento das condições de atendimento de saúde, à criação de espaços de lazer, enfim, a um conjunto de políticas públicas que antes da implantação unidirecional e de cima para baixo de umaestrutura de inteligência, criassem condições de cidadania no sentido da possibilidade da população responder, de maneira cada vez mais intensa e participativa, a um empreendedorismo e a uma governança participativa, colaborativa e inovadora.

 

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